“Suffering has been
stronger than all other teaching, and has taught me to understand what your
heart used to be. I have been bent and broken, but - I hope - into a better
shape.”
― Great
Expectations
Ler os clássicos tem me
deixado numa espécie de êxtase quase sempiterno. É claro que não poderia ser
diferente com Great Expectations. Demorei mais de dois meses para concluir essa
leitura e fiquei muitas vezes dividida entre esta e outras obras literárias e
leituras espirituais.
Com a primeira edição em
1861, esta obra com a qual me deleitei por tão longo período, tem como pano de
fundo a formosa e elegante era Vitoriana. Não há nada mais prazeroso para mim
do que me imaginar vivendo nesta que foi uma das épocas mais galantes.
Philip Pirrip, ou
simplesmente Pip, foi um garoto órfão nutrido pela irmã e o cunhado e que, após
alguns anos vivendo em uma das muitas famílias pobres da sociedade Inglesa, recebe
uma alta quantia em dinheiro para, sem nenhum esforço, tornar-se um
aristocrata. A trama, de modo geral, está desenvolvida com base no mistério da
identidade de seu benfeitor - que mais tarde se mostrará surpreendente por se
tratar de um antigo condenado da justiça a quem Pip ajudou quando ainda era uma
criança - bem como sua paixão por Estella, a filha adotiva de Miss
Havisham, cuja vida se resumiu a educar a pobre menina para quebrar os corações
dos homens como uma forma de vingança a Copeyson, o homem que a abandonou no
altar anos antes.
Após conhecer sua amada
por ocasião das visitas que fazia à casa de Ms. Havisham, Pip decide que o
grande obstáculo para que Estella o tenha em alta conta é a sua posição social
que não o permite estar à altura dela. Deste modo, o garoto decide que, para
conquistá-la bem como ser reconhecido, deverá tornar-se alguém com alguma
fortuna.
O caminho trilhado por
Pip nesta jornada de pecado e redenção foi uma das mais belas impressões que
tive. Não somente ele amadurece de modo a perceber que fortuna alguma poderia
fazê-lo feliz, como também tem a oportunidade de expiar suas culpas com relação
ao esposo de sua irmã, Joe, pelo tempo em que dele se manteve insulado por
vergonha de sua baixa condição social.
Outra experiência
maravilhosa que pude viver com este livro foi o fato de aprender como o amor
não se nos apresenta como um sentimento mas como decisão. Sim, Pip, ainda que
amasse Estella, porta-se como um verdadeiro e nobre cavalheiro e deixa-a
partir, se bem que seu coração esteja em pedaços. Além disso, podemos notar
como um coração amargurado e vingativo de pessoas como Ms. Havisham pode levar
à perdição aqueles que o cercam. Em outras palavras, esses sentimentos têm
poder destrutivo que se estendem para além de quem os sente e podem, como se
nota em Estella, transformar a alma mais pura naquilo que há de mais sórdido.
Para além das
considerações acerca da história mesma, uma pequena curiosidade que só me foi
revelada porque quis saber mais a respeito do livro é o fato de existirem dois
finais escritos por Dickens. O primeiro, como sugere o tom da obra, não foi
feliz como alguns românticos leitores da época gostariam. O segundo, ao
contrário, sugere que Pip e Estella teriam uma chance de finalmente unirem-se um
ao outro. A decisão de mudar o final original partiu, dentre outras motivos,
dos comentários dos leitores que esperavam algo óbvio como o típico casal
apaixonado unido depois de tantos obstáculos. Tendo recebido críticas a esse
respeito, ele definiu que a união de Pip e Estella seria mais razoável.
Ainda neste sentido, as
críticas parecem não chegar a qualquer conclusão: afinal, seria melhor um final
condizente com o teor melancólico da obra ou algo surpreendente que fizesse com
que todo o sofrimento vivido pelas personagens finalmente chegasse ao fim? Eu,
particularmente, tenho o palpite de que um final condizente com o tema da
narrativa seria mais ponderado. Entretanto, gostaria de saber o que pensam
aqueles que já leram ou ainda terão a oportunidade de ler esta história.
Não poderia deixar de
finalizar com uma recomendação alegre desta leitura que me transformou em dois
meses. As razões para que Dickens esteja entre os maiores escritores de todos
os tempos se devem, com certeza, à beleza de suas referências e aos temas
profundamente humanos das grandes batalhas que todos nós já vivemos ou
viveremos um dia.
Boa leitura a todos e
não esqueçam de comentar as suas próprias impressões acerca desta obra.